Já saí por aí com a selvagem brutalidade dos piratas, com a minúcia dos relojoeiros, com a tenacidade das travestis. Já saí muito, e saí bem; acho que as aventuras noctâmbulas são uma das coisas às quais dediquei mais carinho e esforço nesta vida. Não só para sair, mas também para pensar em sair, falar sobre sair, recuperar-me depois de sair, como um engenheiro do lazer noturno. Um baladeiro sem frescuras: frequentava pés-sujos, espeluncas roqueiras, clubes techno, casas de flamenco, o que aparecesse pela frente – o amanhecer na casa de um desconhecido qualquer, com as persianas fechadas e vontade de mais balada. Quem eram todos aqueles caras de jeito esquisito? Tanto fazia, qualquer coisa estava valendo. Era como um gesto subversivo, embora fosse apenas contra a minha própria saúde, ou contra os horários de trabalho, ou contra as pessoas decentes que dormiam na hora certa. Os dias de semana, de pegar no batente, eram apenas o resto da existência, o intervalo entre dois fins de semana, o contrário de um pão de forma. Caramba, era uma coisa heroica.
Mas acontece que, como disse o poeta, a vida avança, e a desagradável verdade mostra a cara. A vida é outra coisa, e agora que acabo de passar dos 35 já não saio tanto nem, sobretudo, da mesma maneira. Ah, que falta eu sinto daquela voz do outro lado da linha que me dizia: “E aí, baladinha hoje?”. E era terça-feira! Agora as pessoas ligam na sexta-feira para jantar e depois, quando muito, tomar uns drinques, que acabam sendo um só, de maneira que voltamos para casa à 0h45, sóbrios, enfastiados e entediados, olhando pela varanda a rapaziada em flor, toda feliz a caminho de se esfregar numa discoteca. E o último talk show da televisão ainda nem terminou…
Hoje em dia, quando me falam em sair para beber alguma coisa, já começa a me dar um baixo astral, porque sei que todo mundo vai querer ir embora logo, para cuidar dos seus filhos, do seu trabalho e das suas preocupações, que ninguém vai me seguir de bar em bar, que ninguém vai querer chacoalhar o esqueleto numa casa noturna… Então começo a beber bem rápido, com a ingênua ilusão de que assim vou me divertir mais, como um beberrão britânico antes de fecharem o pub, com a diferença que depois não brigo com ninguém, só comigo mesmo. Ao final, quando chego em casa, derrotado, os apresentadores do tal talk show me flagram e, cheios de malandragem, me olham da telinha e me chamam de babaca.
Sergio C. Fanjul tem 36 anos, é escritor e jornalista espanhol. É formado em astrofísica. Também é uma subcelebridade do meio intelectual de Madri. Este texto foi publicado em Tentaciones, revista do EL PAÍS.